quarta-feira, 26 de maio de 2010

Love next door


Toda manhã acordava ansiosa pelos breves segundos de tensão gostosa ao entrar no elevador e trocar meia dúzia de palavras com o que uma adolescente designaria como "o homem mais bonito e charmoso de todos os tempos".
Sim, meu vizinho era um sonho. Bom, ao menos aos olhos de uma garota ingênua e apaixonada. Esse ritual se repetia todos os dias. Ambos saíamos super cedo de casa e assim que eu apertava o botão do elevador rezava para que ele já estivesse lá no andar de baixo esperando por mim. Nunca tive que subir novamente para esperá-lo. Ele sempre estava lá, me esperando no andar de baixo. E meu coração disparava antes mesmo da porta se abrir.
Me lembro de ter comentado que queria me tornar psicóloga. Também me lembro dele ter me oferecido carona uma vez ou outra, mas aceitar seria além dos meus limites para a época, claro.
Com o tempo passamos a nos comunicar de outras formas. Seu quarto era exatamente embaixo do meu e assim fui descobrindo seu gosto musical e percebemos nosso gosto mútuo por música bem alta. Descobri que ele também gostava de Queen e descobri como podíamos nos comunicar através da música. Eu colocava a caixa de som bem pertinho da janela e vice-versa.
Me lembro da sensação gostosa de saber que aquela música estava sendo tocada para mim. Saber que ele escutava o que eu tinha para dizer através da música que eu fazia ecoar através da vizinhança toda com minha super potente caixa de som. E nunca passou disso. E um dia ele se mudou e nem ao menos soube seu nome. Ou talvez ele tenha me dito e eu o esqueci. Mas o importante permaneceu. A lembrança daquela taquicardia toda vez que a porta do elevador se abria. A lembrança de fins de semana na janela escutando a música que ecoava da janela de baixo. A lembrança de aprender a se comunicar com a linguagem do amor.
É assim que me recordo desta história. Talvez não tenha sido exatamente dessa forma. Talvez muitos dias possa ter sofrido sem encontrá-no no elevador na hora determinada. Talvez nem todas as músicas tenham sido tocadas. O fato é que, aconteceu no meu coração e minha alma gravou assim, desse jeitinho que te contei.
Love, love, love. Nesta arte, seremos eternos aprendizes, porque se um dia você se sentir muito velho para amar, estará perdido para sempre na amargura de uma vida tediosa.